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Antes de falar, leia.

Algumas considerações sobre o caso Marielle Franco

Ando meio por fora das redes, mas não tem como não ver que a todo momento e em todos os lugares o que mais se fala é na morte de Marielle, a vereadora que teria sido morta porque defende as coisas que defende.

A respeito da motivação da morte dela é absolutamente IMPOSSÍVEL afirmar algo sem saber nem mesmo quem a matou. Claro, já, de antemão, apresentaram a polícia como culpada para combinar com causa que já haviam escolhido. Pode ter sido policiais? Claro que pode, da mesma forma que pode não ter sido. Pode ter sido assalto? Poderia, mas TODO o cenário apresentado aponta para um “não assalto”.

Vamos nos deparar com dois dos QUATRO DISCURSOS de Aristóteles (Poético/imaginativo: mera possibilidade, imaginação; Dialético/provável: probabilidade razoável) e desconsiderando outros dois (Retórico/verossímil: combina com a opinião geral, verosimilhança; Lógico matemático: certeza absoluta) pelo simples fato de que é possível IMAGINAR hipóteses e ter um nível de PROBABILIDADE, mas não é recomendável usar a opinião geral (retórica/verosimilhança) por ser ela mesma completamente embasada em informações, no mínimo, capengas, e completamente impossível se ter CERTEZA ABSOLUTA sem ter a comprovação dessa certeza.

Lembro que logo em seguida do discurso que Dilma falou em estocar vento surgiram alguns sites fazendo um emaranhado de informações imprecisas e/ou erradas de forma a levar aquele leitor que não sabia que tais informações eram imprecisas e/ou erradas a achar que realmente era viável. Claro, como escudo prévio das besteiras constantes era mencionado algo como “especialistas afirmam que…”, levantando a hipótese de que seria possível inventar uma tecnologia desse tipo e até passando a ideia que Dilma estaria à frente de seu tempo. Como falei, muitas das informações eram imprecisas e/ou erradas de forma a levar a maioria dos leitores (que não sabiam que eram erradas tais informações) a pensar algo parecido com “pior que ela não é tão burra quanto parece, na verdade eu que sou por não saber dessas coisas”, sendo que na verdade era nesse momento que estava sendo feito de palhaço por gente que abusa tanto da burrice/ignorância dos leitores (ou de ouvintes, em outros casos) sobre determinados assuntos quanto do ego destas mesmas, que são insuflados com a oportunidade que essas pessoas veem em “aprender” tais coisas e parecerem inteligentes perto de outros burros/ignorantes – seria muito dispendioso explicar as essas falsidades aqui, mas dentre elas poderia dizer que o que mencionavam é impossibilitado por uma das leis da termodinâmica, além das informações sobre temperaturas dos gases e alguns gases mencionados estarem completamente erradas.

Como no caso de Dilma, nesse caso também tem muita coisa que não está sendo considerado, pelo menos por aqueles que mais falam desse caso (a imprensa e artistas). E tendo isso em vista, vou me ater a algumas coisas que passaram despercebidas ou pelo menos, se foram faladas, não foram tão faladas (porque não vi em lugar nenhum chegarem aos pontos que irei mencionar).

Antes de começar, é preciso saber com que informações estamos lidando, quais as informações que estão sendo propagadas/noticiadas. Vou listar as principais, que são as que eu vou lidar.

  • foi utilizada uma pistola 9mm (link)
  • foi dado tiro em modo rajada (link)
  • a munição foi vendida para a PF em 2006 (link)
  • munições do mesmo lote da munição que matou Marielle foram usada pelo tráfico (link)

Alguém já viu uma cápsula que seja resquício de um crime ter seu lote identificado, exceto alguns raros casos, como este? Não né. Sabe por quê? Porque apenas as munições vendidas ao Estado são identificáveis. Elas possuem identificação que possibilita saber a qual lote pertencem e, a partir daí, saber a data de fabricação, quem comprou e em que data foram vendidas e de repente mais algumas informações. Por esse motivo é que sabem para quem foram vendidas tais munições. “Ah, mas isso eu não sabia”, vai pensar o outro lá. Beleza, mas agora já sabe. E se EU sei, há a enorme probabilidade (não tenho como ter certeza; e olha um dos tipos de discurso de Aristóteles aí, hein) de que os integrantes das forças policiais que recebem tais munições também saibam, então vou considerar como se soubessem.

Alguém aí já disparou com uma pistola 9mm ou com uma sub metralhadora 9mm?

Se já disparou com pistola 9mm, então sabe que o solavanco é meio forte e retomar a pontaria após o disparo pode levar até mais de um segundo, e quanto mais longe o alvo se encontra, mais vai demorar. Pelo que dizem nos jornais os assassinos não estavam longe de Marielle; não iria demorar muito para retomar a mira no alvo, mas seria quase impossível dar uma rajada de mais ou menos um segundo, como foi veiculado na imprensa, com pistola sem acertar tiros consideravelmente distantes uns dos outros, mais distantes do que os que foram dados.

Caso a lateral do carro onde Marielle foi morta seja vista na transversal, se nota que os tiros não ficaram tão agrupados. Estão meio espalhados, mas estão espalhados na horizontal, não há uma variação grande na vertical.

Mas quando se observa pela perspectiva de quem disparou (diagonal) se nota que o agrupamento de tiro fica mais concentrado, ainda mais se levarmos em consideração que o carro onde se encontravam os criminosos estava em movimento.

Com uma sub metralhadora há mais estabilidade e, com isso, mais rapidez para enquadrar novamente o alvo, mas estão dizendo que foi com uma pistola. A meu ver, se usassem uma arma maior, usariam inclusive outro calibre. Mas se fosse um “pré-requisito” usar exatamente aquelas munições? Então teria que ser uma arma que proporcionasse maior estabilidade. – Então tu estás querendo dizer que a arma usada não foi uma pistola? De jeito maneira eu falei isso. Novamente, vamos lidar com a informação que temos.

Não sei se existe disponível no mundo do crime (restrinjo ao mundo do crime, pois é proibido) “seletor para rajada” para pistolas que sejam de outra marca a não ser Glock. Muitas apreensões de pistolas que estavam indo para os morros eram dessa mesma marca, que é quase impossível uma pessoa comum comprar por meios legais no Brasil. Existe um kit chamado “Roni”, que trata-se de um acessório onde se insere a pistola e o resultado que se obtém é quase uma sub metralhadora. Esse kit é proibido e também é bastante encontrado em apreensões de armas que iriam para os morros. O seletor de rajada juntamente com esse kit proporcionaria uma maior precisão para o caso de atirar no modo rajada.

Conhece alguém que faça em pouco tempo um agrupamento de tiro semelhante ao agrupamento apresentado pelos tiros que causaram a morte de Marielle?

Seria essa arma e com esse acessório os instrumentos usados para matar Marielle? Não se tem como saber, pelo menos por enquanto, mas, a meu ver e considerando o que mencionei acima, existe uma probabilidade maior de ser isso do que ser somente uma pistola com seletor de rajada.

Um outro ponto que me chamou a atenção foi a data da venda de tais munições. Não a data em si, mas a validade delas. Em geral uma munição tem a validade de 6 meses, podendo durar mais se bem acondicionadas. Sei de caso de gente próxima a mim que, ao praticar tiro no clube de tiros, algumas munições falharam, e elas não possuíam nem 2 anos. A munições usadas no assassinato estavam vencidas há no mínimo ONZE(!!!) anos, o que me leva a cogitar na hipótese de que estavam muito bem acondicionadas durante um bom tempo. Mas por que guardar durante tanto tempo uma munição que pode ter o seu lote identificado? Seria para uma ocasião em “especial”? Não se tem com chegar a uma conclusão apenas com isso, mas isso não me impossibilita de achar muito estranho tudo isso.

Mesmo não havendo NENHUMA prova que aponte para os assassinos, a primeira coisa dita foi que teriam sido policiais. As munições foram vendidas à PF e os acusados por toda a esquerda foram os policiais militares (até pediram o fim da PM, de novo), mas vamos raciocinar em cima dessas informações.

Se foram policiais os assassinos, então esses policiais são criminosos. Se foram milicianos, criminosos da mesma forma. Nos dois casos seriam CRIMINOSOS vestidos de policiais, bandidos dentro da polícia e não a polícia em si – isso tem que ficar claro. Deveriam ser afastados, condenados e punidos, e ponto final. Pedir o fim da PM apenas facilitaria ainda mais o serviço desse ou de qualquer outro tipo de criminoso.

Mas me vem à mente mais uma pergunta: por que um miliciano (criminoso com farda de policial), sabendo que as munições vendidas às instituições de segurança pública são identificáveis, iria usar para o cometimento de um crime exatamente munições que levariam as investigações para mais perto deles? Não faz muito sentido. Mas seria bem interessante para um criminoso “normal” fazer com que as investigações apontassem para sentido adverso do seu, como se um assaltante deixasse uma carteira com os documentos de outra pessoa cair perto do local onde cometeu um crime (ainda mais sabendo que munições desse mesmo lote foram usadas pelo tráfico em outra oportunidade). No mínimo ganharia um pouco mais de tempo.

Como deixei claro já no início, apesar de estar usando as informações que todos que ouviram dez minutos que seja sobre o caso sabem sobre o mesmo, não estou usando a “opinião geral” (discurso RETÓRICO), muito menos declarando a CERTEZA sobre o caso como muitos estão fazendo (mesmo sem embasamento algum para esta certeza). Mas uso das possibilidades (POÉTICO/IMAGINATIVO) para chegar em uma PROBABILIDADE razoável.

Acho muito estranho não só o que mencionei, mas sim de não ver esses tipos de perguntas em NENHUM outro lugar, sendo as perguntas reduzidas à apenas meia dúzia de perguntas que inferem que não há outra alternativa a não ser ter sido um assassinato protagonizado por policiais. Isso nada mais é do que o controle do imaginário feito pelos meios de comunicação – controlam até mesmo o que é possível imaginar sobre um determinado acontecido.

E antes de mencionar esse texto como agressivo ou qualquer coisa do tipo, entenda que em momento algum eu entrei no mérito das ideias que ela defendia nem qualquer coisa que denigra a imagem dela, apenas lidei com as informações que pairam na mídia e com as que a própria deixa de lado, seja por incompetência, seja por desconhecimento, seja por má intenção ou por qualquer outro motivo que eu não consiga nem imaginar.

Vamos ver até quando essas questões, que são importantes para entender o caso, serão deixadas de lado.

* Escrevi isso há alguns dias e publiquei somente agora, então algumas coisas novas podem ter sido descobertas, mas não acredito muito que o contexto mostrado pela mídia seja diferente.

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