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Que diabos é votar consciente?

Vejo há algum tempo que o apelo principal da maioria dos eleitores é “vote consciente”. Mas o que seria essa “consciência”? Seria votar apenas em candidatos conhecidos? Seria votar em candidatos honestos ou que não tenha o nome “sujo”? Seria votar em um candidato academicamente/profissionalmente capacitado? Seria votar em um candidato que faz inúmeras propostas/promessas as quais a população realmente precisa? Sabe me dizer o que seria votar consciente?

Até hoje não vi nem sequer uma pessoa que me diga coerentemente o que seria “votar consciente”. Tendo em vista essa lacuna existente há muito tempo, e que não vejo no horizonte alguém com capacidade ou vontade de esclarecer, vou tentar delinear, pelo menos, as linhas gerais daquilo que seria um “voto consciente”.

Antes de qualquer coisa, votar consciente não significa votar em um determinado candidato. Cada um possui sua própria consciência, e aquele criminoso que vota de forma consciente em seu político que, por sua vez, defende a não punição dos criminosos, não pode, jamais, ser classificado como um eleitor que não sabe votar. Esse sabe, e sabe melhor do que muitos, até porque esse criminoso tem a consciência de que tudo na política afeta a vida do indivíduo, coisa que todos aqueles que preferem não discutir sobre política deixam passar despercebido. “Mas eu não gosto de política”, vai dizer aquele cara que prefere o futebol, pois o futebol lhe dá alguma alegria, mas ele acaba não se tocando que o seu humor pode até ser afetado pelo futebol, mas a SUA VIDA É, obrigatoriamente, afetada pela política, independente de gostar ou não, de entender ou não, de se foi votar ou não.

Votar consciente está mais ligado a votar naquele candidato que tu conhece mais ou menos o que ele defende e que tais coisas também são defendidas por ti. Isso é votar consciente. É tu saber qual o posicionamento do teu candidato a respeito de diversos assuntos abrangidos pela política. Ou você acha, sinceramente, que a maioria da população vota naquele que promete roubar, desviar verbas, se corromper, defender criminosos? É claro que não. Os eleitores votam naqueles que eles acham que, de uma forma ou outra, vão lutar pelo bem da população. 

Mas o que pensar se aquele candidato que é honesto, é bem qualificado, é conhecido da população por ser verdadeiramente trabalhador acaba achando que o melhor para a população é abolir todo e qualquer tipo de imposto, ou, pelo contrário, acha que o melhor é não apenas elevar todos os impostos existentes, como expropriar todas as propriedades privadas? Ora, seu tu defende impostos estratosféricos e é contra a propriedade privada, o teu votar consciente é exatamente votar em um político que defenda essas coisas; já caso tu defenda o oposto disso, o seu votar consciente deve ser votar em que rejeite o inchaço do Estado. Simples assim.

Mas basta, muitas vezes, dar uma breve olhada nos nomes dos candidatos que já se tem a noção de que o que popula o imaginário do eleitor é a ânsia por um político trabalhador. É João metalúrgico, Maria do posto, Pedro carteiro, Ana da lavagem e assim por diante. Sempre ligando o nome a uma profissão/função tanto para facilitar a memorização (ao contextualizar aquele candidato) como para passar a impressão de que se trata de um trabalhador, e, sendo um trabalhador, já sério o caminho para o voto consciente. É nisso que muitas vezes se escoram candidatos que já foram professores. Nada mais ilusório, exatamente porque aquele professor que é bem quisto pelos alunos, que é bem quisto pelos pais dos alunos e que exerce um bom trabalho NA SUA ÁREA, muitas vezes defende exatamente o oposto do que é defendido pelo eleitor. E não estou nem dizendo que ele defende “A” ou “B”, mas não é porque ele exerce uma profissão na qual a absoluta maioria possui confiança que ele vai defender as mesmas coisas que tu. Médicos, advogados, professores universitários, militares e tantos outros profissionais desfrutam da mesma confiança quase que instantânea.

E é aí que entra o apelo para que primeiramente VOCÊ realmente saiba o que defende. E para isso, se questione, se instigue a saber o que defende ou o que prefere em determinadas situações; se prefere mais intervenção estatal ou menos; se defende que seus governantes mandem na tua vida ou se tu prefere decidir por você mesmo; mas não pare por aí, busque saber também as consequências daquelas ideias que você descobriu que defende; busque saber onde tais ideias foram implementadas e compare para ver se é um lugar que você gostaria de viver, mas faça isso sinceramente, ou melhor, veja os países que você gostaria de viver e veja o que foi feito neles que proporcionou o país que lhe chama a atenção.

Descobrindo o que você defende, daí então busque um político que defenda as mesmas coisas e não alguém que apenas seja honesto, que apenas seja trabalhador, que apenas seja alguém qualificado técnica e profissionalmente, que apenas seja um velho conhecido seu ou que apenas seja um velho conhecido seu que é honesto, qualificado e trabalhador. Entenda que isso não basta para lhe confiar o seu voto. Isso não basta para votar consciente.

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